A terra de nenhuma música

Quando o Taleban, movimento religioso estava no poder no Afeganistão, proibiu todas as músicas, porque eles achavam que cantar e dançar era obra do diabo. As pessoas que ouvissem música seriam espancados ou presos. Assistir televisão, soltar pipas e usar roupas diferentes também foi proibido e as mulheres eram obrigadas a vestir uma burka.

Em 2001, o Talibã foi derrubado do poder por uma coalizão liderada pelos americanos e hoje o país está caminhando para a democracia. No entanto, o Afeganistão ainda é um país muito conservador e pode se sentir que muitos afegãos, especialmente as mulheres não devem tocar música.

As meninas no Afeganistão não tocam músicas ou cantam canções. Mas aos 25 anos, Nargiz não se importou. Ela começou a Burka Band, a primeira banda de garotas afegãs.

“Blueee, Burka Blue...” canta a vocalista na TV, enquanto a outra toca bateria e uma terceira a guitarra.

As três garotas fazem pequenos passos de dança e balançam o microfone como se fosse em qualquer banda. Mas há uma grande diferença. As três garotas usam a burka afegã, o vestido azul que cobre a mulher da cabeça aos pés.

Nargiz dá risadas, quando ela nos mostra o vídeo em Cabul, capital do Afeganistão. Ela é uma das três garotas que começou a Burka Band há dois anos (2002).

“Foi muito divertido, mas também muito assustador. O Afeganistão ainda é um lugar muito perigoso para a mulher moderna, e quando filmamos o vídeo, tínhamos de fazê-lo muito discretamente, porque ninguém podia saber que estávamos tocando música...” diz Nargiz.

Gravação oculta

Nargiz começou a Burka Band, quando ela conheceu um produtor musical alemão em Cabul, no final de 2002. O produtor estava ensinando afegãos a tocar música moderna e Nargiz aprendeu a tocar bateria.

Um dia ela se perguntou por que todas as burkas em Cabul eram azuis, e junto com duas amigas, ela escreveu a canção "Burka Blue", que é sobre burkas e da maneira que você se sente quando as usa. A canção foi gravada em Cabul, com a ajuda do produtor alemão. A banda ensaiou a portas fechadas, de modo que ninguém iria descobrir que as garotas estavam tocando música.

A burka também ajudou a ocultar quem as integrantes da banda realmente eram.

“Claro que era uma brincadeira cantar em burkas, mas era também necessário usá-las. Se as pessoas no Afeganistão soubessem que eramos membros da Burka Band, poderíamos ser atacadas e mortas, porque ainda há um monte de fanáticos religiosos, aqui...” diz Nargiz, que não contou a alguns de seus amigos que ela tem desenvolvido a Burka Band.

Em 2003, a gravadora alemã Ata Tak, lançou a música na Alemanha e a canção se tornou um sucesso em clubes alemães depois de ter sido remixada por um DJ alemão. A Burka Band, mesmo realizando um grande show em Köln, durante uma viagem à Alemanha. Infelizmente, Nargiz não pode se juntar à banda em Köln, porque ela tinha que trabalhar, mas ela acompanhou tudo de sua casa em Cabul.

Perigoso demais para cantar

“No começo eu não acreditei, quando o produtor alemão me disse que a canção era um “HIT” na Alemanha. Foi fantástico, mas ao mesmo tempo, estamos também preocupados com que alguém no Afeganistão pudesse descobrir quem éramos por causa de toda a atenção...” lembra Nargiz, que estima que apenas 10 pessoas no Afeganistão, na verdade, sabem quem são as caras por trás das burkas na banda.

A Burka Band nunca se apresentou no Afeganistão e no momento a banda não está ativa. Durante o regime talibã a música foi totalmente proibida e as mulheres não tinham permissão para trabalhar. Por cantar em público então, poderia levar uma sentença de morte.

Hoje, o país ainda é muito conservador, e não há mercado no Afeganistão para a música da Burka Band. As integrantes da banda esperam por um selo europeu ou americano para ajudá-las a fazer um álbum inteiro um dia.

“Eu gostaria de tocar novamente, mas agora não é possível. No ano passado houve uma grande explosão em um show aqui em Cabul, e muitas pessoas ainda são contra cantoras porque os líderes religiosos as condena. Ainda vai levar uns 10 anos antes de termos “Girl Band’s” aqui no Afeganistão.” diz Nargiz, que agora trabalha em uma organização internacional em Cabul.

A vocalista da Burka Band, foi para o Paquistão porque ela não pode cantar no Afeganistão, já a guitarrista tem um emprego regular.

Hoje, o único lugar para se ver a Burka Band é em vídeo mesmo. Na tela você verá a primeira e única “Girl Band” do Afeganistão com seus fones de ouvido sobre a cabeça coberta com a burka e as baquetas balançando.

O nome Nargiz foi usado para proteger seu anonimato.

Um trecho da letra traduzido:

“Minha mãe usa uma burka, eu devo vestir uma burka também

Nós todas vestimos uma burka, não sabemos quem é quem...”


OUÇA A MÚSICA


FONTE

http://www.lnd.dk/burkaband_eng.htm

Autorizado e escrito por Michael Lund e Signe Daugbjerg

Traduzido e adaptado por Jonatan T.